Pesquisadores da Fiocruz Bahia, em parceria com o Ministério da Saúde, iniciaram um estudo pioneiro que pode representar um avanço na prevenção de leucemia no país. O objetivo é avaliar se o dolutegravir, medicamento já utilizado no tratamento do HIV, pode evitar que gestantes infectadas pelo HTLV-1 transmitam o vírus aos filhos.
O HTLV-1 (vírus linfotrópico de células T humanas tipo 1) afeta o sistema imunológico e está associado a doenças graves, como leucemia e mielopatia, além de aumentar a vulnerabilidade a outras infecções. A transmissão ocorre principalmente por via sexual e de mãe para filho, especialmente pela amamentação.
Atualmente, gestantes são testadas no pré-natal, e aquelas com resultado positivo recebem orientação para não amamentar. Porém, ainda existe risco de transmissão durante a gestação ou no parto. O estudo busca preencher essa lacuna e, caso seja comprovada a eficácia, será a primeira intervenção farmacológica do mundo com esse propósito.
A pesquisa vai acompanhar 516 gestantes com HTLV-1 a partir da 24ª semana de gestação até o parto. Após o nascimento, os recém-nascidos continuarão recebendo o tratamento por 28 dias. Os resultados serão comparados com um grupo-controle que seguirá apenas a recomendação atual de não amamentação. Todos os pares de mãe e filho serão monitorados até os 18 meses de vida para verificar se o remédio reduz as infecções.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que entre 2023 e 2025 surjam 11,5 mil novos casos de leucemia por ano no Brasil. Em 2020, foram registradas 6.738 mortes pela doença. Se comprovada a eficácia do dolutegravir, a medida poderá reduzir os custos de tratamento, melhorar a qualidade de vida das crianças expostas e aliviar a carga sobre o sistema de saúde.
A iniciativa também reforça a importância do diagnóstico precoce e da vigilância epidemiológica. Estima-se que entre 800 mil e 2,5 milhões de brasileiros estejam infectados pelo HTLV, muitas vezes sem saber.